No quarto de casal, há muitos documentos jogados sobre a cama. Entre objetos antigos, como fotos de família, documentos do primeiro marido de Delícia Menezes Pereira --mãe adotiva de Wellington--, contas velhas, livros escolares, a reportagem do UOL Notícias encontrou um desenho infantil possivelmente feito por Wellington em agosto de 1992, quando ele tinha cinco anos.
Em uma das fotos encontradas no quarto, uma mulher segura um bebê. Segundo as vizinhas Elma Pedrosa, 50, e Edna Ferreira, 55, que moram ao lado da casa da família, trata-se de Delícia segurando o filho adotivo Wellington. Elas também reconheceram nas fotos o irmão Paulo César, que hoje mora em Brasília.
Wellington morou em Realengo até setembro do ano passado, mês em que sua mãe adotiva morreu. Após a morte, ele se mudou para uma casa em Sepetiba, também na zona oeste.
Doze estudantes morreram --dez meninas e dois meninos-- e outros 13 ficaram feridos no ataque. Ontem, sepultadas nos cemitérios da Saudade, Murundu e Santa Cruz. Hoje pela manhã, o corpo de Ana Carolina Pacheco da Silva, 13, o último a deixar o Instituto Médico Legal (IML), foi cremadono crematório do Carmo, no centro do Rio.
O ataque, sem precedentes na história do Brasil, foi interrompido após um sargento da polícia balear Wellington na perna. De acordo com a polícia, o atirador se suicidou com um tiro na cabeça após ser atingido. Wellington portava duas armas e um cinturão com muita munição. A polícia prendeu dois homens que confessaram terem vendido uma das armas ao atirador.
Moradores falam sobre Wellington
Os relatos dos moradores da rua Jequitinhonha, onde a família de Wellington morou durante toda a vida se repetem: ele era extremamente quieto, calmo e não causava problemas. Não tinha amigos e não conversava com os outros moradores, mas era estudioso e trabalhador.
Nos últimos sete meses, as roupas sociais que ele usava por conta da religião --freqüentava a Igreja Testemunhas de Jeová --passaram a ser pretas. “Foi depois que a mãe dele morreu, daí ele foi morar em Sepetiba, em uma casa deixada pelo pai porque não se dava bem com as pessoas daqui”, contou o office-boy Fábio dos Santos, 27, que trabalhou durante um ano com o atirador em uma fábrica de frangos na região.
Segundo ele, Oliveira ainda não tinha barba comprida porque a empresa não permitia. “Ele sempre chegava na hora, nunca teve problemas no trabalho. Acho que essa história de que ele sofria bullying é especulação. Ele nunca fez mal a ninguém. Se era perturbado, não demonstrava”, disse.
Os vizinhos também contam que os pais adotivos de Oliveira eram idosos e muito queridos no bairro. “Pegaram ele recém-nascido para criar. Ele era filho da sobrinha do primeiro marido da Dulcéia (mãe adotiva do Oliveira). Não dá para acreditar. Peguei esse menino no colo. Se a gente ainda achasse que era de índole ruim, que sempre causava problemas, mas não, a ficha não cai”, afirmou Edna Ferreira, 55.
“Ele era um adolescente diferente, isolado, mas a família era muito bacana”, completou Elma Pedrosa, 50, que vive na casa ao lado da da família.
A irmã de Oliveira, que até anteontem morava na casa deixada pelos pais, não foi mais vista no local. Uma vizinha que não quis se identificar, mas que era amiga da mãe adotiva do atirador, disse que Dulcéia comentava que o filho fazia tratamento psicológico porque a mãe verdadeira tinha problemas mentais. “Ele sempre foi estranho mesmo. Ela adotou por dó”, disse.
O corpo de Wellington ficará disponível para reconhecimento no IML (Instituto Médico Legal) Afrânio Peixoto, no centro da cidade, durante 15 dias. Se neste período nenhum familiar fizer o reconhecimento, o corpo de Wellington poderá ser enterrado como indigente, segundo fontes do IML.
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